tag:blogger.com,1999:blog-186511722024-03-08T19:05:53.092-03:00Commedia dell'ArteA nauseabunda arte da existência.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.comBlogger21125tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-16127181960849620722008-01-23T23:15:00.001-02:002008-11-08T11:49:17.135-02:00PorcelanaDeslizam avidamente por seus dedos brancos e lisos os grãos de areia daquele lugar. Nenhum se aloja pelos labirintos de sua palma. Só resta uma poeira fina e clara.<br /><br />Limpando as mãos no sobretudo de veludo vinho, olha em volta satisfeito consigo mesmo e, acima de tudo, satisfeito com suas novas abotoaduras douradas. Passa as mãos pelos cabelos de um jeito que faz com que a luz reflita nas jóias de seus anéis. Gosta do efeito.<br /><br />Com as mãos na cintura, caminha displicente, esbarrando propositalmente aqui e ali, curvando-se um pouco mais do que o necessário para as pequenas, sorrindo ironicamente para os cavalheiros. Joga duas moedas para alguns mendigos.<br /><br />Caminhando pela rua mais famosa da cidade, chega logo nos degraus de sua porta da frente. Deixando o sobretudo no cabideiro, sobe as escadas até a sala de almofadas, seu pequeno lugar secreto.<br /><br />Ele adora o toque das superfícies sedosas sobre sua pele, embora elas passem tão rápido. Sai de casa novamente.<br /><br />Precisa ser admirado.<br /><br />Logo a frente vê uma menina, graciosa e esperta, com um olhar malicioso. Oh, céus! Aos pés dela, a escória.<br /><br />Não pode ser visto pela escória.<br /><br />Vira-se subitamente para a esquerda, tomando um atalho por um beco. Lá, no escuro, tropeça e cai.<br /><br />E quebra-se.<br /><br />Em<br /><br />pe<br />que<br />nos<br /><br />ca<br />cos.<br /><br />Onde ninguém mais pode vê-lo.<br /><br />Pantaleão.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-49076281219226245502007-12-21T11:45:00.000-02:002007-12-21T12:10:54.099-02:00LuaPequenos pulos - sim, esses! - que aterrisam em pedras soltas e fazem com que ela perca o equilíbrio por uns instantes. Abrindo os braços - ah! espalhafatosa! - reganha o equilíbrio para prosseguir, ruborizada.<br /><br />Quem diria que ela - tão zombeteira e segura de si - seria aquela que, distraída, soltasse sorrisos à meia-boca para ninguém.<br /><br />Continua com seus passos alegres que mais parecem pulinhos, até notar que, sem querer, acabou chegando na lua e não sabe mais como voltar. Ah, que infortúnio! Como poderá novamente achar a fonte de sua alegria?<br /><br />Andando pelas crateras, passando por todos aqueles bichos-de-lua, escorregando sôfrega por sobre os mares congelados, triste, muito triste. As lágrimas descem-lhe em turbilhões que ela afasta, impaciente, e acabam voando como gotas redondas quase paradas no ar.<br /><br />Parou, debaixo de uma árvore lunar, e encostou a testa no tronco, pensativa. Como foi deixar que alguém lhe fizesse perder assim o rumo?<br /><br />De repente, ouviu vozes.<br /><br />E acabou chegando a uma taverna da lua. Onde descobriu que estavam todas as pessoas que vale a pena se encontrar. Inclusive aquela pessoinha.<br /><br />Sim, aquela.<br /><br />Colombina.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-17418201395747582722007-04-28T20:56:00.000-03:002007-05-01T22:08:35.879-03:00DorSemi-enterrado no chão, apenas parcialmente consciente do que o rodeia, busca no movimento das folhas das arvores algum alento à aflição. Sabe que não vai encontra-lo em folhas, mas em algumas palavras que nunca foram ditas. Mantem as pupilas dilatadas, fixas em algum ponto invisível, o que faz com que o vento oscile a paisagem para dentro e para fora de seu campo de visão. Não se mexe porque tem medo de sofrer.<br /><br />Imerso em um estado de letargia onde tudo que ganha espaço é a dor. Não tremula os lábios. Não chora. Não aperta os dedos. Não desvia o olhar. Até sua respiração é débil e nem sequer faz vapor no ar frio.<br /><br />Não consegue pensar. Apenas sente a dor vindo em ondas grandes demais para se manifestarem fisicamente. No fundo ele sabe que não pode fazer nada para sentir-se melhor, para que seja perdoado, para que tudo volte a ser belo. Mas esta idéia não chega a ser formulada.<br /><br />Depois de um tempo chora, mas não pisca para as lagrimas irem embora. Deixa que elas achem seu caminho depois de turvarem-lhe a visão, fazendo com que as estrelas se embaralhem numa massa sem luz.<br /><br />Pierrothybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1176163447236689982007-04-09T20:55:00.000-03:002007-04-09T21:04:07.250-03:00Retribuição Divina.Um apelo, meus caros, pela desmarginalização da classe mais segregada e mal vista pela sociedade ordinária. As palavras.<br /><br />¦3<br /><br /> ~ ~ ~ ~<br /><br /> -Conheço a sensação de estar com os dedos ressecados, tão ressecados que sinto as cristas das pontas de meus dedos saltando para os abismos de meus joelhos. Conheço a sensação de ter os olhos fastidiosos, mas sem bocas para poderem sorver, nem ao menos capazes de se lamberem, oceanos da alma. Reconheço a sensação de observar-lhe vomitando palavras... e quando as vejo assim, pueris, nuas de sentido: meus olhos ressecam ainda mais para chorar-lhes um significado - que tu as negas ! - <br /><br /> Com os olhos revirados entre os limites orbitais, esparrama-se no trono em que se encontra, abre a boca, retorcida pela chicotada de suas bochechas zombeteiras, não sorri. Com os dedos flutuando, projetados pelo encosto dos pulsos, toca uma melodia nas cordas imaginárias de seu piano sem teclas. Aos seus pés dançam as ondas de um oceano de imaginação, reflexo de seu teto onde só existe o zênite: pois ignora o que circunda o vasto atro, já que seus olhos só observam o que há a frente. Em sua túnica miríade de sons conduzem os tecidos em amplitudes desconhecidas, pois sua sonoridade é exótica como o aroma de seus cabelos ~ incenso de Arlequim ~ .<br /><br /> - Ovacionar a insanidade é imperativo, meus caros. Quando caminhamos entre os sons as palavras não conseguem configurar meu epíteto - fogem irrequietas ou enrubescem-se ao meu toque - Apresento-me, faltando um pedaço de mim mesmo, para que me reconheçam por completo em momento futuro! <br /><br />O ato de se levantar tornou-se tão subjetivo e peculiar neste momento que seria impossível descrever o movimento executado. O fato, apenas, é: houve uma reverência indolente. <br /><br />Hybrid Persona.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1175546223764639162007-04-02T17:20:00.000-03:002007-04-02T18:44:17.816-03:00ViajanteOs troncos retorcidos exalam cheiro de marfim. Quem caminha por lá já aprendeu que tudo depende de um bocado de sorte. E de algo mais. Ele sabe, você não. Ele já passou pelo bosque alguns bons bocados de vezes, cada uma delas achando um caminho diferente. São sim as suas trilhas que serpenteiam selvagemente em meandros, confundindo viajantes. Quem o tenta seguir, é tragado por sua maldição.<br /><br />Ele não enxerga as próprias trilhas.<br /><br />Apenas tenta em vão achar o final daquele monte de árvores. Mas não consegue, pois não vê o quão óbvio é seu erro. Você sabe, ele não. Ele continua um desbravador, tendo orgulho de suas frustrações, como algum tipo de cobra que não existe de verdade, que se alimenta do próprio veneno, mas ao mesmo tempo é envenenada.<br /><br />Claro que não existe nada assim, pensa.<br /><br />E abana a mão como que para dispensar a idéia. A ideiazinha faz uma pequena reverência e sai correndo apressada, meio aos pulinhos, passando pelos caminhos que seu dono não passou e, eventualmente, achando a saída. O desbravador segue em frente.<br /><br />Depois para oeste.<br /><br />Um dia achará a saída de seu dilema. Será? Ele não sabe, você também não. Mas...<br /><br />Há quem saiba.<br /><br />Pierrot, perdido em si mesmo.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1175202611778573432007-03-29T19:00:00.000-03:002007-03-29T19:10:11.790-03:00Flocos de neveVestido de branco, como sempre, ele avança metamorfoseando-se com a paisagem. Estende a língua para abraçar os flocos que voam e tenta sentir a individualidade deles se derretendo e misturando-se com sua vida. Imagina que consegue, mas no fundo sabe que não.<br /><br />Levanta o dedo indicador e com delicadeza imagina estar tocando uma folha macia. A árvore rapidamente transforma-se em um corpo humano. Agora toca uma face macia.<br /><br />Sacode a cabeça e segue em frente.<br /><br />Seus pés afundam-se na neve pastosa, mas ele acha bom. Ouvindo atentamente, percebe que o vento lhe diz algo, mas prefere ignorar. A solidão lhe agrada por assegurar que está só.<br /><br />Apesar de saber que solidão é relativo.<br /><br />Apesar de saber que cada floco é alguém, que a pastosidade da neve é apenas uma sensação, e que a memória da árvore... é apenas uma memória.<br /><br />Pierrot.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1175131585495606492007-03-28T23:14:00.000-03:002007-03-28T23:26:25.506-03:00Gotas de águaSentado à mesa, observa a pele morena em contraste à brancura do papel. Tensiona os músculos dos dedos, observando o desenho intricado das rugas que se refaz a cada movimento. Percebe que se olhar de um certo ângulo, sua mão esquerda tem gosto de melancia.<br /><br />É de tarde. Anos antes estaria trabalhando nesse horário, mas agora já não precisa mais. Levanta-se e arrasta os chinelinhos cor de vinho até o banheiro, onde liga a água e espera a banheira encher. Despido, enfia só os dedinhos do pé direito, testando a temperatura.<br /><br />Vapor sobe da água quente, embaçando os espelhos. Ele gosta disso.<br /><br />Senta-se e relaxa os músculos, brincando de sentir a superfície da água na palma da mão. Não precisa mais dela para enrugar os dedos.<br /><br />O sabão com cheiro de lavanda tem um toque suave. Já o xampu tem cheiro de dor-de-cotovelo.<br /><br />Puxa a tampa do ralo, medindo com o dedo o nível da água a cada vez que ela baixa. Sozinho, observa seu corpo nu jogado ali na banheira. Agarra-se com força na beirada e tenta erguer-se. Cai sentado. Suspira fundo e tenta de novo. Agora, já em pânico, consegue juntar a pouca adrenalina do seu organismo já usado, e levanta-se com dificuldade.<br /><br />Sua mulher nunca está em casa.<br /><br />Quantas vezes mais será que ele consegue?<br /><br />Pantaleão. Sempre sozinho, velho e rico.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1175130607122053282007-03-28T22:58:00.001-03:002007-03-29T19:11:52.700-03:00Grãos de areiaArlequim passa distraído, mordiscando pedaços de um coração e soltando suspiros de céu azul enquanto procura por sinais de civilização. Anda em círculos na areia fofa, fazendo com que suas pegadas se somem às da volta anterior.<br /><br />Assim não se sente só.<br /><br />Aos poucos as pegadas vão sumindo, tragadas por algum capricho de algum deus da areia, que quer que nosso heróis sinta-se totalmente só, totalmente desamparado. Talvez ele queira que Arlequim perca seu sorriso presunçoso, que sinta-se abandonado e preso na única força da natureza que não pode evitar. Ou talvez ele simplesmente colecione pegadas.<br /><br />Lá não venta.<br /><br />Os suspiros agora não são mais azuis, e levantam uma camada fina dos gãos de areia, aquela fumacinha que desenha espirais onde antes era liso. A areia em que senta agora não é mais aquela que pisou. O céu está mais longe.<br /><br />Então ele entala.<br /><br />Como é angustiante viver em uma ampulheta anil!<br /><br />Arlequim.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1158976174618140332006-09-22T22:26:00.000-03:002006-09-22T22:49:34.636-03:00<p> Eu admiro os que podem fechar os olhos para se entregar a uma imensidão sem limites ou até mesmo adormecer. Fechar os olhos é, para mim, como a sensação de atordoamento que sentimos após olhar para uma luz bem forte e brilhante. Quando fica impressa na retina uma imagem, imagem que não pode ser retirada quando se deseja. É a moldura da minha monomania, que ao contrário da impressão luminosa não pode ser apagada. E as vezes eu consigo até saber se você está brava ou não comigo, é só fechar os olhos ! </p><p>¦3 *dorme*</p><p>Para a teoria da relatividade a atração entre os corpos é, como na visão clássica da física, produto de forças de atração que um corpo exerce sobre o outro, como por exemplo: a atração que exerce o Sol sobre a Terra. Chamarei genericamente esta força de atração de gravidade. No âmbito da física teórica é extremamente complexa a conceituação da gravidade, segundo a teoria da relatividade, para facilitar o entendimento os exemplos são sempre bem vindos ! Quando uma pessoa se senta sobre uma almofada, aquelas que estão repletas de um enchimento bem fofo e volumoso, o seu peso causa uma deformação na superfície da almofada e por conseqüência disto uma visível deformação em sua configuração. Uma outra pessoa, então, senta-se na outra extremidade da mesma almofada, uma pessoa mais rechonchuda, fazendo com que a almofada sofra outra deformação que irá servir como o mecanismo de uma catapulta para "arremessar" o indivíduo mais franzino para perto do nosso "obeso astro rei". Resumindo: A força de atração foi exercida pela pessoa exacerbada em termos materiais quando esta sentou na almofada. Tentando resumir ainda mais: a força de atração exercida por uma "coisa" de grande massa gera uma distorção no espaço, mais ou menos como o que aconteceria com uma cama elástica quando alguém salta sobre ela.<br /><br /> O mesmo homem nunca se banha nas águas do mesmo rio. A vida é uma fonte constante de alteração e eterna evolução, o mesmo homem não se banha nas águas do mesmo rio pois o rio não é matéria inerte, o rio tem vida própria e flui como deseja. A água nunca é ociosa, é como uma saia que roda por dentro de suas várias camadas em uma estonteante avalanche de mudanças. Ainda assim esta visão não engloba a potencialidade da eterna mudança, não apenas o rio está em constante mudança, o homem que banha-se no mesmo rio após sair deste não é mais o mesmo homem a essência de sua "constituição" (e digo referente a: especial maneira de ser de algo) foi compartilhada com o rio. O rio agora tem um pouco do homem e o homem tem um pouco do rio. Podemos imaginar, como pessoas criativas, que há uma imensidão de vazio no vazio e que neste vazio não há vazio pois pensar no vazio já é conferir à inexistência de matéria uma essência, a matéria é apenas a ilusão criada para a configuração externa do universo e a união e solidez dos objetos, na verdade, não existem. Quando duas bocas se beijam há uma constante troca, não apenas de afeto e carícias mas também de vazio, onde moléculas de uma pessoa estão em constante mudança de um amante para o outro. A manifestação mais intensa de afetividade e de amor, de proximidade entre duas pessoas, se dá no âmbito microscópico. Ou ainda transcendental já que o desejo que uma pessoa nutre por outra não é apenas o sentimento de volúpia de possuir, de seduzir e desvendar o milionésimo pedaço que diferencia essa pessoa do resto do mundo, é apenas a atuação do gênio da espécie que compactua com as infinitas possibilidades do acaso para que os seres humanos evoluam da maneira mais próxima a perfeição. O Sorriso de uma mulher é o que gera a distorção do espaço ao seu redor e atrai um homem para a naturalidade do sentimento de amar. Contra isso não há como lutar ! Assim como os românticos: irei ignorar a existência de um ardiloso gênio da espécie. Acreditarei apenas que o sorriso da mulher que faz o meu vazio fluir no ritmo da vida é o imperativo categórico que move meu ser. A especial maneira de ser da minha existência.<br /><br /> Sempre haverá em um amante as características de sua monomania. Pela forma como suas pálpebras se movem ou como tremem os seus lábios, na forma de escrever ou na maneira de beijar. Esconder é, propriamente, se negar. Atrás de diferentes palavras escondem-se as mesmas intenções: um belo texto não pode camuflar o que a existência não pode ignorar.</p>hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1158542624009792482006-09-17T22:19:00.000-03:002006-09-17T22:23:44.026-03:00EnsaioSempre que pronuncio a palavra "ensaio" imagino uma pessoa desajeitada sacolejando sobre pernas não muito firmes. Essa pessoa remexe-se sobre os quadris de forma engraçada e fica apoiada pela parte lateral das solas dos pés. O movimento de quadril é longo e nada ritimado. É assim que me sinto com relação a esse texto só que, no meu caso, engatinhando.<br /><br /> ¦3 *defenestrado*<br /><br /><br /> Seguindo estritamente a etimologia da palavra: dizem que paixão encontra seu cerne no radical "passio", termo do latin, que significa sofrimento ( e não falarei agora sobre a paixão mas sobre outro palavra ). É importante notar que este mesmo radical pode compor uma distinta palavra que, pelo menos para mim, soa como misericórdia cristã. Esta palavra "filha" que contém o mesmo cerne é a "compaixão". Que é a compaixão senão ato de respeito estrito e extremamente cristão? É a sublimação máxima da bondade e altruísmo que o ser humano pode manifestar. Sentir compaixão de alguém é, antes de tudo, apiedar-se e consolar quem sofre. Consolar quem sofre de amor, quem sofre de ódio ou quem sofre da dor carnal, quem está espiritualmente perturbado ou emocionalmente abalado. Ter compaixão é se posicionar exatamente acima de quem sofre, é a piedade em sua manifestação mais sarcástica. Quem nunca quis descortinar um belo horizonte pela manhã e ter derramado na fronteira do delírio do despertar um magnífico " Tens toda minha compaixão ", os que amam se frustrarão. Existem, porém, outros países onde o termo "compaixão", pela fonte diversa de onde a raiz lingüística do termo deriva (países como a Tchecoslováquia) , assume especial posição, digna de admiração de minha parte. A raiz determinante dá outras roupagens ao termo compaixão e transforma este ato singelo de egocentrismo cristão, como notado, na mais alta manifestação sentimental que pode pulular do imo de um ser vivente ! Nesses países a palavra compaixão toma a forma de " sentir com alguém " e não " sentir por alguém " ou " não ser apático com o sofrimento de alguém " como estamos acostumados.<br /><br /> -------(A compaixão diferenciada, segue. ) A sintonia existente entre duas pessoas, almas antes de mais nada, que tem a capacidade de "sentirem juntas" é consoante, vibram simultaneamente como um só, como os andróginos citados na mitologia grega*. A mais perfeita comunicação que se faz através de um "rio semântico" onde a partitura de ambos torna-se uma só. Onde as notas e as frases musicais de um tornam-se o ritmo e a paixão do outro. Antes de qualquer coisa esse "co-sentimento" é o evolar da pura magnificência do ser. A diferença entre o desenvolvimento destes dois termos está onde? Na evolução semântica? <br />É preciso compreender que por mais belo ou complexo que seja o desenvolvimento da palavra "compaixão", independente da descendência do significado, o ser que se prende aos extremos limites dos termos não será , verdadeiramente, um legítimo possuidor do sentimento. Pois a paixão o amor e a compaixão não são palavras. A palavra não sente, a palavra não é arrebatada pelo amor, a palavra não derrama uma lágrima por quem ama. A palavra apenas explica. A palavra é o mito para desmistificar as sensações incríveis que estão enclausuradas na carne de quem sente. Pois se o universo é realmente o infinito, este, não é a milésima parte do que podem ser os verdadeiros sentimentos. Ao fechar os olhos não se prenda ao escuro de uma prisão solitária: liberte-se para a eternidade do sentir e compreender, compreender o que está acima da imaginação, sem palavras, sem exclamações e sem a intenção do desmistificar. Apenas o sentir. Quando sente: o homem é seu próprio Deus, pois a fé na criação íntima e na vontade de unir-se a totalidade do universo é o verdadeiro dom da divindade. O dom de sentir, isto é amar.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1147481994492420942006-05-12T21:54:00.000-03:002006-05-12T21:59:54.510-03:00Reticências. . .O Céu como tapete, lustroso e reluzente. Obra de instrumentos de suplício transcendentais, caóticos ou não, enfim; apenas meios para coroar um fim mais importante. No firmamento brilhava uma pálida luz, sinistra quase presságio de morte, envolta em todo esse mistério deslumbrante pairava Lua; e as nuvens que eram como enfeites num imenso céu pontilhado com estrelas apenas ornamentavam seus limiares que brilhavam qual prata debruada em seus contornos.<br /> Nesta noite as gotas caíam aos borbotões nas terras relvadas em que erguiam-se juncos e carvalhos muito altos, e era entre seus finos ramos que deitavam-se as lágrimas do céu movendo-se tonitruantes no ermo da escuridão. Uma cabeça espia por uma fresta na madeira envelhecida de um portentoso carvalho.<br />- Mas como pode haver a chuva? sem os delicados braços que a acompanha para deitar-lhe sobre a terra? -Questionava-se o pequeno enquanto seus olhos reviravam-se nas órbitas pensativos.-<br /><br /> E naquele instante rompe o céu uma fina e tortuosa fenda luminosa, que envia fáculas diretamente aos olhos do pequeno que encolhe-se em seu esconderijo,assombrado.<br /><br />- Há coisas no vasto atro. - Referindo-se inconscientemente ao mundo e ao universo, pois essas palavras e conceitos a ele eram estranhas. - ... que não podemos apreciar ou desvender e cabe a nós apenas vislumbrar.<br /><br /> E a partir deste dia as alvoradas que não acompanhavam o Sol e os ocasos que não coroavam a noite passaram por ele despercebidos. Pois em uma mente que não concebe subdivisões e limitações: Integra-se ao todo e compreende do íntimo o que a turva mente que raciocina esquarteja para ufanar-se.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1143260989588304272006-03-25T01:18:00.000-03:002006-03-25T01:29:49.603-03:00Ego & Amor<p> ¦3 *Comendo arsênico*<br /> Louvada seja, Madame Bovary !</p><p>~~~*~~~</p><p>Que noite indolente, a lua preguiçosamente observava a quietude dos becos e vielas das pequenas cidades, seus habitantes há muito se encontravam recolhidos, nas ruas apenas vagavam ermos os ébrios e os desajustados; no campo uma fácula de luz irradiada pela lua iluminava parcamente os vinhedos os pequenos jardins das propriedades e as grandes extensões de lavoura que exalavam odor de sofrido labor; era uma noite cálida e nada de extraordinário parecia estar acontecendo. No céu, algumas nuvens estavam espalhadas, e o brilho pálido que se refletia no cândido e prateado espelho que ornamenta o céu noturno dava a este um aspecto solene e funesto.<br /><br />Os narizes de ambos quase se tocavam, as bocas estavam retorcidas e tesas, a senhorita mantinha as mãos virtuosamente postas sobre as coxas e sentia que inconscientemente apertava o tecido de seu frágil vestido fazendo-o se enrugar, os dedos trêmulos e o fito nas sobrancelhas e nos olhos dolentes do rapaz a sua frente, escorriam-lhe pela fronte algumas gotas de suor e o seu peito arfava de ansiedade.<br />Podiam ambos sentir a respiração um do outro acariciar doce e lentamente suas bochechas, a suavidade e a calidez da sensação os deixavam arrepiados; o jovem rapaz mordia o lábio inferior e nele pressionava os dentes com tanta força que chegava a gravar-lhe pequenas manchas rubras, ao vislumbrar a cena a senhorita contorcia-se intimamente desejando agarrar-lhe o pescoço e dizer-lhe loucuras.(não o fazia graças ao pouco pudor que lhe restava).<br /></p><p> Subitamente, seguido de um susto e posteriormente o alívio uma das mãos percorre a infinita e inalcançável distância que parecia aprisiona-los em universos distintos, o gesto recíproco e o rubor imediato, ambos sorriam e os rostos apenas não fundiam-se em um só por ser humanamente impossível. Os lábios do rapaz, grandes e bem desenhados eram suaves como um botão de rosa quando deslizando pela pele casta daquela jovem donzela, os dela projetavam-se diagonalmente e de forma sedutora quando aspirava o ar com mais força para conter as concupiscências que vaguejavam por sua alma reprimida, que libertava-se da peia a que sempre estivera submissa. Em um instante milênios esvaíram-se pelos portões do infinito e era insopitável o desejo de ambos. ”Da-mo, o beijo. Com ternura ou lascívia, pousa teus lábios nos meus e deixa-me agasalhar-lhe a boca pela eternidade do efêmero.”Projetam-se os lábios e permeados por brumosas sensações. Mantinham os olhos cemi-cerrados desejando entregarem-se por completo mas, receando a perda da experimentação do empírico, a concretização das aspirações e o momento sublime, o eflúvio dos sentimentos para realização do inefável, enfim. </p><p> </p><p>O beijo. </p><p> </p><p>Ri-se da própria perspicácia Pantaleão, dito e feito! Ah! Colombina... ! </p><p> </p><p>Um sonoro ruído de desastre,e esparramado no chão está o pobre pantaleão, o vento uiva em seus ouvidos como uma platéia faz escárnio de um medíocre ator, for fim, os cotovelos escorregaram.<br /><br />Não se despede, pois está desmaiado. </p>hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1142876665757521792006-03-20T14:32:00.000-03:002006-03-20T23:26:13.636-03:00Apoteose Natural (Intróito panegírico do amor de caráter fabuloso)<p>¦3 *Suspira*<br /></p><p>~~~*~~~</p><p>Adoro comparar o amor a uma teia de aranha, um tema recorrente, algo que é definido por várias linhas de pensamento bem definidas e lineares, à primeira vista. Para não me tomarem por previsível é mais fácil pensar no amor, dentro dessa metáfora, pensando na figura, que tomamos por secundária, da aranha. Não é algo tão simples de ser exposto, deve ser, antes de tudo, dilacerado e exposto aos olhos como as vísceras de um condenado, não apenas nesse exemplo em específico mas sim em todos os exemplos e também pensamentos que nossa mente proficuamente possa tecer. Para tanto devo me posicionar perante os meus pensamentos de forma altiva, serei o verdugo dos meus íntimos desejos e pensamentos. Portanto pensemos em uma situação específica: Como é possível obter um café de excelente qualidade? (Existem dentro das linhas de raciocínio que permeiam minha mente padrões e objetivos que, por mais contundentes que sejam, devem ser seguidos. É uma ação mecânica que em teoria e em categoria de intimidade, com minhas idéias, tornaram-se imperativos categóricos há muito, portanto não me despirei destes para colocar em prática minha explicação.) Um café de qualidade depende de alguns elementos, citarei: o papel do filtro deve ser de boa qualidade, a temperatura da água deve estar ideal, devem ser observados os grãos do café, o tempo de filtragem bem como a quantidade de água para tal, após todo esse processo é garantido que teremos então um excelente café? Quem sabe? Afirmo que seja mais fácil que mesmo com uma água salobra, imprópria para o uso, com os grãos menos portentosos e com o filtro de pior qualidade, nossas mães sejam capazes de produzirem a bebida de forma mais sublime que nós, com toda essa parafernália.<br /></p><p>Estávamos falando de amor, não? E aonde diabos chegaremos com essa explicação desvairada? Ora, tudo que foi dito refere-se ao amor, em suas infinitas formas, mas ainda não me utilizei de meu exemplo mais delirante: A aranha.<br /></p><p>O amor, em verdade, é algo análogo a teia que a aranha tece. Geramos em nosso íntimo e produzimos quando temos necessidade, necessidade essa que é a de sobreviver pois o homem é nascido essencialmente para tal. A teia simboliza, para mim, algo infinitamente superior e transcendental que milhares de sentimentos, tecemos ao nosso redor com esse sentimento que emana cálido do nosso imo, como já foi dito, uma trama viscosa de pretensões e a ansiedade que no peito inflama toma a forma de um amante (a fuga da realidade, a vítima das idealizações), nesse ponto a teia e o amor confundem-se e miscigenam-se em um conceito de propriedade. Produzir algo dentro de nós com a força de nossa alma para suprirmo-nos com esse benefício divino, parece egoísmo, mas é apenas o curso natural dos fatos. O amor é o sentimento mais egoísta vil e vilipendioso que existe é para tanto que nessa relação precisamos de um hemisfério que seja a vítima desse sentimento, para que o sentimento não se polarize ignóbil em nosso interior, é por isso que o amor é composto de duas pessoas. A capacidade de encontrar em outro o contra-ponto essencial de nossa alma, o que nos torna perniciosos por prender sublimes criaturas na teia do nosso sentimento, e o quê nos torna especiais por compartilhar da bondade de um amante.Entre duas pessoas existe um imenso abismo de indiferença que é simbolizado empiricamente pela incapacidade de compreensão intrínseca ao ser humano e presente nas formas de expressão existentes. Quando preservamos a teia que nos une a outra pessoa devemos ser precavidos e extremosos. A teia representa nossos sentimentos: Infinitamente belos pela bondade da natureza e essencialmente instáveis pela insustentável leveza de nosso ser.<br /></p><p>Essas são as palavras de um jovem de olhar firme, nariz aquilino, cabelos negros banhados pela infinita luz do fogo de uma lareira, os olhos são o reflexo do próprio olhar diante de um espelho e a certeza de eternidade no coração faz sua cadeira trepidar e mover-se sozinha.</p><p>Uma cadeira de balanço.<br /></p><p>Contradições.<br /></p><p>Zeppo, assim me apresento.</p><p><br />OBS: Apesar de "O Amante" ser um título mais específico para referir-se a essa personagem, por uma questão de preferência prefiro chama-lo por esse nome do quê por apenas esse título, alcunha ou o que quer que seja.</p>hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1141409369138970242006-03-03T15:03:00.000-03:002006-03-03T15:09:29.163-03:00Amor & Ego*morde* ¦3<br /> ~~!i!i! ~V/\V/\V~ !i!i!~~ <br /><br />Com candura as luzes brilham neste corredor de mármore, agitando e excitando as sombras bruxuleantes formadas pela frouxa luz vinda de pequenas candeias fixas rente as paredes, caminhando por este estreito e onírico corredor eu tenho mais uma vez a sensação de estar imerso em vapores úmidos onde minha sombra, que aos olhos nús parece estar em brumosa agonia afônica, afoga-se nos desesperos que sequer imagino para mim.<br /><br />A janela que antes estava semi-cerrada abro com um soco e de soslaio observo todo o corredor, que agora está em lúgubre penumbra, em minha frente vislumbro uma paisagem delirante de arrojo ditirâmbico. Meus olhos percorrem o céu e contam as estrelas que deslizam pelas suas órbitas inintelegíveis e se refletem no esmalte do meu olhar, debruço-me sobre o parapeito e com os dedos pontiagudos pontilho no céu lânguido o gentil rosto de minha obsessão.<br /><br />A noção de tempo esvai-se por entre as falanges de minhas mãos e perco-me, delirante, no contorno admirável dos lábios do céu. Um suspiro evola-se do meu coração, subindo por minhas entranhas como uma lâmina me fendendo e se libertando pelos húmidos portões do hálito que ressecados recém orvalhavam-se com uma lágrima de pesar. Apesar de me ludibriar, por meu semblante dolente é impossível não notar, que minha paixão é de certa forma contumaz.<br /><br /><br />Querida Colombina ! De tanto pensar em ti, quase esgorreguei meus cotovelos !<br /><br />Com um pequeno sorriso, só me resta a janela semi-cerrar em contundente revelação.<br /><br />Colombina há de me amar !<br /><br />Com amor! Pantaleão.<br /><br />Nota: Ego= centro psíquico-emocional da personagem, no caso.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1139499081308017622006-02-09T13:12:00.000-02:002006-02-09T14:30:25.703-02:00XequeCabisbaixo, vem andando pela rua. Meio sôfrego, meio em desalento. Apenas um miserável vulto branco a tropeçar pelo caminho que vai traçando na hora. Anda e para.<br /><br />Para e senta-se no chão.<br /><br />Ele sabe onde está. Olha em volta. O chão branco traça os limites de seu espaço com contornos pretos e bruscos. É o que o impede de ir mais além. Não tem coragem de pisar em solo negro.<br /><br />Com um soluço abafado, engole as lágrimas e deita-se no chão branco, misturando-se na ausência de cor. Ausência de cor. Refração da luz. Refração do mundo. Quem é aquele vulto branco?<br /><br />No momento, somente mais uma peça de um jogo enorme. Um peão pequeno e insignificante que não pode mover-se de seu quadrado enquanto seu adversário não fizer o próximo lance. Ali era só uma peça de plástico que reflete aquilo que o mundo tem de bom, e, misteriosamente, permanece intocado. Sufocado pelos limiares negros que o rodeiam. Que absorvem o mundo.<br /><br />Tem muita gente assim, reflete.<br /><br />Encolhido, deixa escapar uma lágrima. Com ela, vêm muitas mais. Secando-as com a manga branca do macacão branco, soergue a cabeça e procura o adversário.<br /><br />Ironia!<br /><br />Quem é aquela bela peça vermelha que reluta em dar o próximo passo? É ela. Inimiga e amada, Colombina bela e senhora de si (ou assim acha ela). Colorida, também refrata na brancura do peão. Uma rainha.<br /><br />Que rainha olharia um peão?<br /><br />Majestosa, pisa em solo negro e fecha o lindo semblante. Com uma expressão dura, olha na direção do vulto branco e encolhido.<br /><br />Xeque.<br /><br />Pierrot.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1135456911597398172005-12-24T18:16:00.000-02:002005-12-28T16:49:01.600-02:00O BrocheArlequim saltita pelas ruas, pulando pelos paralelepípedos rústicos, entoando músicas de canavais antigos e conversando com as lâmpadas do passeio. Carrega um sorriso no rosto que se espalha e retorce quando passa pelas poças de luz em meio à escuridão.<br /><br />Ao fim da rua, vira-se de costas e inclina-se em grande reverência, os guizos do chapéu a quase tocar o chão. Descuidado, deixa cair um de seus broches, que fica semi-enterrado na areia e nas imundícies da estrada. Sem o notar, prossegue sua alegre peregrinação, transloucado e inebriado por não sei que bálsamo de amor.<br /><br />Logo que dobra a esquina, surge Pantaleão, exalando álcool e outros fuidos impronunciáveis. Cambaleante, brada aos quatro ventos sua riqueza e seu poder.<br /><br />Que poder?<br /><br />Mal sabe ele...<br /><br />Tropeça e vai ao chão como um saco de batatas. Um saco furado, diga-se de passagem, pois foi cair bem em cima do broche arlequinal. Senta-se xingando ainda mais alto, e é logo acudido pelo doutor, que, enfurnado em sua alcova, chega mesmo a ouvir a balbúrdia por sobre os gemidos de sua acompanhante.<br /><br />O que fará ele?<br /><br />Nem ele sabe.<br /><br />O próximo a acudir é Polichinelo que, às voltas da casa do doutor, espera pelas sobras. Seus olhos brilham diante da agulha afiada do broche. Acha que ela é o único meio de resolver seus infortúnios.<br /><br />Mas que infortúnios?<br /><br />Não se recorda.<br /><br />Parece que foi à tanto... Logo ele é o único que aparenta não se lembrar. Curvado assim sobre o acidentado, lambe os beiços ruidosamente enquanto enxerga as pequenas manchas vermelhas na camisa de Pantaleão.<br /><br />E eis que vem lá! Quem? É ela, Colombina. Vem linda e graciosa, olhando enamorada as estrelas que quase não brilham, ofuscadas que são pelas luzes metropolitanas. Ao se aproximar, os homens se afastam, absortos demais em seu infortúnio para aperceberem-se de sua preseça.<br /><br />Para no meio da rua, olhando para cima e para os lados, subtamente consciente de sua solidão. É então que, como quem não quer nada, por mero jogo do destino, desvia o olhar para o chão. Vê então um pequeno broche, com a ponta afiada e vermelha projetando-se da areia da rua.<br /><br />Com sua mão branca e delicada, ergue o broche, e pela primeira vez desde o início de nossa história, vira-o para ver a jóia. Não é jóia de verdade. Mas é belo. Como um universo inteiro.<br /><br />Prende-o no vestido e assobia uma musiquinha alegre.<br /><br />Que fará em seguida?<br /><br />Ela sabe.<br /><br />É a única que sabe.<br /><br />Arlequim.<br />do broche encantadohybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1132439992547873272005-11-19T20:36:00.000-02:002005-11-19T20:39:52.556-02:00Adorável Rosto Branco.~ >< ~~><~ ~ >< ~~><~ ~ >< ~~><~ ~ >< ~~><~ ~ >< ~~><~ ~ >< ~~><~<br /> O amor é o grande poeta dos desajustados, tece através do olhar dos amantes as belas poesias, as melodias afônicas que embalam o coração dos que são ligados por laços que transcendem as palavras e os sentimentos.<br /> O momento em que nossos olhos encontraram-se o amor ruborizou, teceu a mais bela melodia, fez os corações inflamarem-se, e ufano sibilou palavras de copiosa extremosidade, fez o universo suspirar a inveja do hálito dos amantes.<br /> Ah minha amada, há coisas que não preciso saber para te amar, há momentos em que os seus olhos brilhantes libertam-me da peia que me prende a você, os grilhões que não quero desprender, a beleza das mentiras que me prendem nesse mundo onde o limite é apenas o que sinto, esse lugar de infinita tentação, onde eu ajoelho e rezo pelo fim da ilusão.<br /><br />Se deseja. Liberta-me dessa prisão.Se me queres, prende-me eternamente em seu coração. Belo dia, para uma simples melodia.<br /><br />Canta-me o amor - na surdez de minha impaciência -as belezas dessa emoção.<br /><br />Que meu rosto branco nunca mais venha a chorar.<br /><br />Até mais ver, até o breve ressonar. Pierrô.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1132250115367827312005-11-17T15:50:00.000-02:002005-12-01T13:27:11.600-02:00Misterioso Prazer !!~~~~~~~~~~~~~~~~X~~~~~~~~~~~~~~~~<br />Olhem só como minhas mãos são macilentas e calejadas, mãos assim são mãos fatais, mãos que já tocaram com carinho a face da morte. Encarar seus atros olhos por uma única vez muda o semblante de um mancebo ou rapariga eternamente, mas, alguém que coaduna com a donzela negra fica com rubra marca bruxuleante na alma.<br /><br />Essa marca é um sinal, para que todos saibam que eu sou alguém que amou profundamente e profundamente foi amado, alguém que envolveu-se incompreensívelmente com o próprio egoísmo, alguém que avantajou-se perante a humanidade ignóbil. Uma pessoa que agora paira acima da vida ou da morte, aquele que regozija-se em sentir o toque cálido, suave e perfumado da bela donzela vermelha, a maculada virgem que insiste em cobrir-lhe o corpo com sua pele delgada nas noites lúgubres.<br /><br /> Olhem bem para o céu azul, em meus olhos o céu apenas é o reflexo de meu coração, um ocaso de crueldade colorido com o negro do meu destino. A hipocrisia do sorriso que ostento é maior que o vazio que me vai no peito.<br /><br /> Vejam essa mãos e como as colunas de meus dedos são portentosas, são as mãos de um pai sábio, que por amor a criança querida cantou uma canção de beleza, que lançou o pequeno ser admirado nos belos cabelos de um mundo onírico. Minha adorada família, o mundo é cruel demais para tê-los, sublimes presenças. Farão parte de um céu estrelado que cobre as órbitas dos meus olhos negros que imortalmente derramam lágrimas de pecado. Viverei em resignação, liberto do meu simulacro secular, onde a vida e a morte se prostrarão para que eu sobre elas possa caminhar.<br /><br /> Sim, querida família... As vezes meus lábios, esses portões da vergonha não conseguem conter essa gargalhada, a gargalhada que ecoa do meu imo, por dizer tantas bobagens.<br /><br />Boa noite, Bela noite, Ah um prazer !<br /><br />Essa noite convidarei a donzela rubra a comigo vir gozar a valsa da paixão, e só então, liberta-la-ei de sua prisão.<br /><br />Atenciosamente, até a próxima dança.<br /><br />Polichinelo.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1132237572603884002005-11-17T12:19:00.000-02:002005-11-17T12:26:12.610-02:00Corda bambaPantaleão que não se vê enganado pelo belo ser que diz-lhe ser seu. Mas quem sabe o que dirá a outrém?<br /><br />Pantaleão apaixonado por uma bela máscara. Quem é ela? Ela diz ser sua. Mademoiselle Colombina?<br /><br />Como não poderia sê-lo? Um doutor tão bem apessoado como monsieur Pantaleão, decerto arranca suspiros de jovens sete vezes mais bels que a pequena Colombina. Que a bela Colombina.<br /><br />Doutor? Não, este é outro. É aquele cavalheiro de alta cartola e bengala, vê? Doutor de quê? Quem foi que ele curou?<br /><br />Silêncio.<br /><br />Pantaleão caminha pelo mundo dando pulinhos ocasionais de regozijo e assobiando uma musiquinha alegre que dedica à sua amad. À imaculada Colombina.<br /><br />Pantaleão equilibra-se na corda bamba. Acha que sabe onde vai, mas não tem noção do perigo. A corda, na verdade, só conduz a um destino. Teria ele alguma escolha, senão pular?<br /><br />Ao final da corda, no mastro, do outro lado, Colombina o espera com malabares de bolas coloridas. À amarela, sorri e chama Pantaleão. À branca, escarneia e joga ao chão. Toma a vermelha entre os dedos e, voluptuosa, tasca-lhe um beijo. Que fez partir-se a corda de Pantaleão, que, desamparado, cai.<br /><br />Os tambores rufam.<br /><br />Será que Pantaleão ainda há de erguer-se?<br /><br />Colombina sorri. A cruel Colombina.<br /><br />Pantaleão.<br />que quer ser enganadohybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1131549565788835282005-11-09T13:02:00.000-02:002005-11-09T13:19:25.796-02:00Nova CartaO que acontece quando uma nova carta é tirada do monte?<br /><br />Os valetes, em frenesi, preocupam-se em manter seus privilégios sobre a realeza, sempre estremecendo diante da possibilidade de serem sobrepujado por um ser estranho, algo que não conhecem. Porque tudo o que não conhecem é inferior.<br /><br />Já as damas agitam-se mais com o recém-chegado. As de negro cochicham entre si com colhares furtivos.<br /> "Por que algumas pessoas se vestem de preto?"<br />Já as damas de vermelho, mais atrevidas, não medem esforços em fazerem-se notar. Porque nunca valorizam o que já têm consigo, querem sempre o mais novo. (quanto a elas, prefiro velar-me em minha negra simpatia e abster-me de mais comentários)<br /><br />Os reis, envoltos em seu explêndido manto de consciência de sua própria competência, nem notam que suas capas têm muitos centímetros a mais, e criticam logo as vestes prosaicas na carta nova.<br /><br />Quem é o rei de um baralho de quatro naipes?<br /><br />Só um curinga sobressai-se na multidão. Sem naipe, sem números ou letras. Nada a mais que os outros. É só diferente. Talvez tenha nascido assim.<br /><br />É como o arlequim. Com guizos e cores, ri da vida e troça da futilidade que faz o mundo girar. É o louco. E é louco porque sabe o porquê de o mundo girar.<br /><br />Só que as pessoas se recusam a ouvir.<br /><br />Arlequim este que, recém tirado do baralho sorri para a vida, mas estremece diante da morte. E vira um pierrot. Perdidamente apaixonado e tolo por sê-lo, mesmo sabendo que seu amor é impossível. Porque mesmo sendo pierrot, ainda lembra-se da razão de tudo. Ou da maior parte, pelo menos.<br /><br />Só esqueceu-se de como não temer a morte. E por isso afoga-se em desespero diante da possibilidade de perder quem lhe é querido. E, desesperado, abraça contra si a última carta do baralho, aquela que ameaça ser levada pelo vento, mas que lhe é mais amada.<br /><br />Que os jogos comecem.<br /><br />Pierrot.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-18651172.post-1131160006479640532005-11-05T00:46:00.000-02:002005-11-05T01:06:46.486-02:00Apresentação.Aqui se escreve, aqui se lê, aqui se pensa, e se manifesta. Mas quem? o quê? por quê?<br /> Quem é você que derrama sobre as páginas pensamentos vagos, que sublima em palavras o que não consegue expressar por ações? por tras desta pusilanimidade evola-se uma personagem sem rosto, sem manifestação sexual. Uma personagem apenas transcendental.<br /> Apenas uma pessoa - ou várias - que pode como um cubo mostrar-se sob vários aspectos, e através de cada face manifesta-se a mentira, mas não apenas a mentira, cada face urge, também, a verdade.<br /> Nesse dédalo de emoções percorrem como líquido vil todos esses semblantes, rolando como água, sorrindo e gritando ao mesmo tempo com os inúmeros lábios da realidade.<br /> O motivo? quem sabe?<br /> Sabemos(quem?)que os homens livres tem medo da morte, e que a sabedoria destes está em meditar sobre a vida.<br /> Esse é o espaço em que a vida se transformará em comédia. Fastigiosamente pairamos acima da volúpia e da necessidade, e o luxo de escarnear, é todo nosso.<br /><br /> Bela noite, boa noite. Um prazer !<br /><br />Ah, isso digo eu, minha amada.hybrid_personahttp://www.blogger.com/profile/08562092131437540216noreply@blogger.com11