Sentado à mesa, observa a pele morena em contraste à brancura do papel. Tensiona os músculos dos dedos, observando o desenho intricado das rugas que se refaz a cada movimento. Percebe que se olhar de um certo ângulo, sua mão esquerda tem gosto de melancia.
É de tarde. Anos antes estaria trabalhando nesse horário, mas agora já não precisa mais. Levanta-se e arrasta os chinelinhos cor de vinho até o banheiro, onde liga a água e espera a banheira encher. Despido, enfia só os dedinhos do pé direito, testando a temperatura.
Vapor sobe da água quente, embaçando os espelhos. Ele gosta disso.
Senta-se e relaxa os músculos, brincando de sentir a superfície da água na palma da mão. Não precisa mais dela para enrugar os dedos.
O sabão com cheiro de lavanda tem um toque suave. Já o xampu tem cheiro de dor-de-cotovelo.
Puxa a tampa do ralo, medindo com o dedo o nível da água a cada vez que ela baixa. Sozinho, observa seu corpo nu jogado ali na banheira. Agarra-se com força na beirada e tenta erguer-se. Cai sentado. Suspira fundo e tenta de novo. Agora, já em pânico, consegue juntar a pouca adrenalina do seu organismo já usado, e levanta-se com dificuldade.
Sua mulher nunca está em casa.
Quantas vezes mais será que ele consegue?
Pantaleão. Sempre sozinho, velho e rico.
Wednesday, March 28, 2007
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2 comments:
bom estar de volta
sozinho, velho e rico...
feliz? talvez... dependendo do ângulo, como sua mão tem gosto de melancia, sua vida pode ter o olor róseo campestre... ou não.
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