Saturday, April 28, 2007

Dor

Semi-enterrado no chão, apenas parcialmente consciente do que o rodeia, busca no movimento das folhas das arvores algum alento à aflição. Sabe que não vai encontra-lo em folhas, mas em algumas palavras que nunca foram ditas. Mantem as pupilas dilatadas, fixas em algum ponto invisível, o que faz com que o vento oscile a paisagem para dentro e para fora de seu campo de visão. Não se mexe porque tem medo de sofrer.

Imerso em um estado de letargia onde tudo que ganha espaço é a dor. Não tremula os lábios. Não chora. Não aperta os dedos. Não desvia o olhar. Até sua respiração é débil e nem sequer faz vapor no ar frio.

Não consegue pensar. Apenas sente a dor vindo em ondas grandes demais para se manifestarem fisicamente. No fundo ele sabe que não pode fazer nada para sentir-se melhor, para que seja perdoado, para que tudo volte a ser belo. Mas esta idéia não chega a ser formulada.

Depois de um tempo chora, mas não pisca para as lagrimas irem embora. Deixa que elas achem seu caminho depois de turvarem-lhe a visão, fazendo com que as estrelas se embaralhem numa massa sem luz.

Pierrot

2 comments:

Takkun, ou Talles said...

puxa.

Simplesmente... é isso.
Talvez um pequeno ato, ou uma inscipiente omissão, pode vir a ter consequências indizíveis para quem a recebeu.

E isso nada tem a ver, me parece.

Igor said...

quem é vc?