Wednesday, January 23, 2008

Porcelana

Deslizam avidamente por seus dedos brancos e lisos os grãos de areia daquele lugar. Nenhum se aloja pelos labirintos de sua palma. Só resta uma poeira fina e clara.

Limpando as mãos no sobretudo de veludo vinho, olha em volta satisfeito consigo mesmo e, acima de tudo, satisfeito com suas novas abotoaduras douradas. Passa as mãos pelos cabelos de um jeito que faz com que a luz reflita nas jóias de seus anéis. Gosta do efeito.

Com as mãos na cintura, caminha displicente, esbarrando propositalmente aqui e ali, curvando-se um pouco mais do que o necessário para as pequenas, sorrindo ironicamente para os cavalheiros. Joga duas moedas para alguns mendigos.

Caminhando pela rua mais famosa da cidade, chega logo nos degraus de sua porta da frente. Deixando o sobretudo no cabideiro, sobe as escadas até a sala de almofadas, seu pequeno lugar secreto.

Ele adora o toque das superfícies sedosas sobre sua pele, embora elas passem tão rápido. Sai de casa novamente.

Precisa ser admirado.

Logo a frente vê uma menina, graciosa e esperta, com um olhar malicioso. Oh, céus! Aos pés dela, a escória.

Não pode ser visto pela escória.

Vira-se subitamente para a esquerda, tomando um atalho por um beco. Lá, no escuro, tropeça e cai.

E quebra-se.

Em

pe
que
nos

ca
cos.

Onde ninguém mais pode vê-lo.

Pantaleão.

2 comments:

Anonymous said...

Acho que todo poder é frágil assim... basta achar o ponto fraco... o problema de pessoas-porcelanas é que o ponto fraco resume-se a tudo XD

;***

B.G said...

Bravo! Encantado com sua órbita...

abraços