Friday, September 22, 2006

Eu admiro os que podem fechar os olhos para se entregar a uma imensidão sem limites ou até mesmo adormecer. Fechar os olhos é, para mim, como a sensação de atordoamento que sentimos após olhar para uma luz bem forte e brilhante. Quando fica impressa na retina uma imagem, imagem que não pode ser retirada quando se deseja. É a moldura da minha monomania, que ao contrário da impressão luminosa não pode ser apagada. E as vezes eu consigo até saber se você está brava ou não comigo, é só fechar os olhos !

¦3 *dorme*

Para a teoria da relatividade a atração entre os corpos é, como na visão clássica da física, produto de forças de atração que um corpo exerce sobre o outro, como por exemplo: a atração que exerce o Sol sobre a Terra. Chamarei genericamente esta força de atração de gravidade. No âmbito da física teórica é extremamente complexa a conceituação da gravidade, segundo a teoria da relatividade, para facilitar o entendimento os exemplos são sempre bem vindos ! Quando uma pessoa se senta sobre uma almofada, aquelas que estão repletas de um enchimento bem fofo e volumoso, o seu peso causa uma deformação na superfície da almofada e por conseqüência disto uma visível deformação em sua configuração. Uma outra pessoa, então, senta-se na outra extremidade da mesma almofada, uma pessoa mais rechonchuda, fazendo com que a almofada sofra outra deformação que irá servir como o mecanismo de uma catapulta para "arremessar" o indivíduo mais franzino para perto do nosso "obeso astro rei". Resumindo: A força de atração foi exercida pela pessoa exacerbada em termos materiais quando esta sentou na almofada. Tentando resumir ainda mais: a força de atração exercida por uma "coisa" de grande massa gera uma distorção no espaço, mais ou menos como o que aconteceria com uma cama elástica quando alguém salta sobre ela.

O mesmo homem nunca se banha nas águas do mesmo rio. A vida é uma fonte constante de alteração e eterna evolução, o mesmo homem não se banha nas águas do mesmo rio pois o rio não é matéria inerte, o rio tem vida própria e flui como deseja. A água nunca é ociosa, é como uma saia que roda por dentro de suas várias camadas em uma estonteante avalanche de mudanças. Ainda assim esta visão não engloba a potencialidade da eterna mudança, não apenas o rio está em constante mudança, o homem que banha-se no mesmo rio após sair deste não é mais o mesmo homem a essência de sua "constituição" (e digo referente a: especial maneira de ser de algo) foi compartilhada com o rio. O rio agora tem um pouco do homem e o homem tem um pouco do rio. Podemos imaginar, como pessoas criativas, que há uma imensidão de vazio no vazio e que neste vazio não há vazio pois pensar no vazio já é conferir à inexistência de matéria uma essência, a matéria é apenas a ilusão criada para a configuração externa do universo e a união e solidez dos objetos, na verdade, não existem. Quando duas bocas se beijam há uma constante troca, não apenas de afeto e carícias mas também de vazio, onde moléculas de uma pessoa estão em constante mudança de um amante para o outro. A manifestação mais intensa de afetividade e de amor, de proximidade entre duas pessoas, se dá no âmbito microscópico. Ou ainda transcendental já que o desejo que uma pessoa nutre por outra não é apenas o sentimento de volúpia de possuir, de seduzir e desvendar o milionésimo pedaço que diferencia essa pessoa do resto do mundo, é apenas a atuação do gênio da espécie que compactua com as infinitas possibilidades do acaso para que os seres humanos evoluam da maneira mais próxima a perfeição. O Sorriso de uma mulher é o que gera a distorção do espaço ao seu redor e atrai um homem para a naturalidade do sentimento de amar. Contra isso não há como lutar ! Assim como os românticos: irei ignorar a existência de um ardiloso gênio da espécie. Acreditarei apenas que o sorriso da mulher que faz o meu vazio fluir no ritmo da vida é o imperativo categórico que move meu ser. A especial maneira de ser da minha existência.

Sempre haverá em um amante as características de sua monomania. Pela forma como suas pálpebras se movem ou como tremem os seus lábios, na forma de escrever ou na maneira de beijar. Esconder é, propriamente, se negar. Atrás de diferentes palavras escondem-se as mesmas intenções: um belo texto não pode camuflar o que a existência não pode ignorar.

Sunday, September 17, 2006

Ensaio

Sempre que pronuncio a palavra "ensaio" imagino uma pessoa desajeitada sacolejando sobre pernas não muito firmes. Essa pessoa remexe-se sobre os quadris de forma engraçada e fica apoiada pela parte lateral das solas dos pés. O movimento de quadril é longo e nada ritimado. É assim que me sinto com relação a esse texto só que, no meu caso, engatinhando.

¦3 *defenestrado*


Seguindo estritamente a etimologia da palavra: dizem que paixão encontra seu cerne no radical "passio", termo do latin, que significa sofrimento ( e não falarei agora sobre a paixão mas sobre outro palavra ). É importante notar que este mesmo radical pode compor uma distinta palavra que, pelo menos para mim, soa como misericórdia cristã. Esta palavra "filha" que contém o mesmo cerne é a "compaixão". Que é a compaixão senão ato de respeito estrito e extremamente cristão? É a sublimação máxima da bondade e altruísmo que o ser humano pode manifestar. Sentir compaixão de alguém é, antes de tudo, apiedar-se e consolar quem sofre. Consolar quem sofre de amor, quem sofre de ódio ou quem sofre da dor carnal, quem está espiritualmente perturbado ou emocionalmente abalado. Ter compaixão é se posicionar exatamente acima de quem sofre, é a piedade em sua manifestação mais sarcástica. Quem nunca quis descortinar um belo horizonte pela manhã e ter derramado na fronteira do delírio do despertar um magnífico " Tens toda minha compaixão ", os que amam se frustrarão. Existem, porém, outros países onde o termo "compaixão", pela fonte diversa de onde a raiz lingüística do termo deriva (países como a Tchecoslováquia) , assume especial posição, digna de admiração de minha parte. A raiz determinante dá outras roupagens ao termo compaixão e transforma este ato singelo de egocentrismo cristão, como notado, na mais alta manifestação sentimental que pode pulular do imo de um ser vivente ! Nesses países a palavra compaixão toma a forma de " sentir com alguém " e não " sentir por alguém " ou " não ser apático com o sofrimento de alguém " como estamos acostumados.

-------(A compaixão diferenciada, segue. ) A sintonia existente entre duas pessoas, almas antes de mais nada, que tem a capacidade de "sentirem juntas" é consoante, vibram simultaneamente como um só, como os andróginos citados na mitologia grega*. A mais perfeita comunicação que se faz através de um "rio semântico" onde a partitura de ambos torna-se uma só. Onde as notas e as frases musicais de um tornam-se o ritmo e a paixão do outro. Antes de qualquer coisa esse "co-sentimento" é o evolar da pura magnificência do ser. A diferença entre o desenvolvimento destes dois termos está onde? Na evolução semântica?
É preciso compreender que por mais belo ou complexo que seja o desenvolvimento da palavra "compaixão", independente da descendência do significado, o ser que se prende aos extremos limites dos termos não será , verdadeiramente, um legítimo possuidor do sentimento. Pois a paixão o amor e a compaixão não são palavras. A palavra não sente, a palavra não é arrebatada pelo amor, a palavra não derrama uma lágrima por quem ama. A palavra apenas explica. A palavra é o mito para desmistificar as sensações incríveis que estão enclausuradas na carne de quem sente. Pois se o universo é realmente o infinito, este, não é a milésima parte do que podem ser os verdadeiros sentimentos. Ao fechar os olhos não se prenda ao escuro de uma prisão solitária: liberte-se para a eternidade do sentir e compreender, compreender o que está acima da imaginação, sem palavras, sem exclamações e sem a intenção do desmistificar. Apenas o sentir. Quando sente: o homem é seu próprio Deus, pois a fé na criação íntima e na vontade de unir-se a totalidade do universo é o verdadeiro dom da divindade. O dom de sentir, isto é amar.