Thursday, February 09, 2006

Xeque

Cabisbaixo, vem andando pela rua. Meio sôfrego, meio em desalento. Apenas um miserável vulto branco a tropeçar pelo caminho que vai traçando na hora. Anda e para.

Para e senta-se no chão.

Ele sabe onde está. Olha em volta. O chão branco traça os limites de seu espaço com contornos pretos e bruscos. É o que o impede de ir mais além. Não tem coragem de pisar em solo negro.

Com um soluço abafado, engole as lágrimas e deita-se no chão branco, misturando-se na ausência de cor. Ausência de cor. Refração da luz. Refração do mundo. Quem é aquele vulto branco?

No momento, somente mais uma peça de um jogo enorme. Um peão pequeno e insignificante que não pode mover-se de seu quadrado enquanto seu adversário não fizer o próximo lance. Ali era só uma peça de plástico que reflete aquilo que o mundo tem de bom, e, misteriosamente, permanece intocado. Sufocado pelos limiares negros que o rodeiam. Que absorvem o mundo.

Tem muita gente assim, reflete.

Encolhido, deixa escapar uma lágrima. Com ela, vêm muitas mais. Secando-as com a manga branca do macacão branco, soergue a cabeça e procura o adversário.

Ironia!

Quem é aquela bela peça vermelha que reluta em dar o próximo passo? É ela. Inimiga e amada, Colombina bela e senhora de si (ou assim acha ela). Colorida, também refrata na brancura do peão. Uma rainha.

Que rainha olharia um peão?

Majestosa, pisa em solo negro e fecha o lindo semblante. Com uma expressão dura, olha na direção do vulto branco e encolhido.

Xeque.

Pierrot.

6 comments:

Anonymous said...

Eu conheço uma rainha que olhou para um peão, um bem muchibento e jururu, mas ao contrário desta, a minha rainha não tinha ares de inalcançável. Era só a rainha dos sentimentos que eu guardava só pra mim, e que agora nem meus mais são.

Anonymous said...

Apenas quem pisa em solo negro sabe o que existe do outro lado... Apenas adentrando-se neste mundo é que o peão branco encontrará a sua rainha... e lá... tornar-se-ão vermelhos... como o vermelho profundo do sangue que corre nas veias dos anciãos que guardam os céus.

Anonymous said...

uau!

Anonymous said...

volte sempre!
Eu volto sempre... claro!

Anonymous said...

Mto foda o texto!! como tds neh moça! por isso eu digo "qdo eu crescer eu quero ser igual a Lu" XD
I know.. I also think I´ve got an angel already =]
pleaaaase do kill me..! XD
=***
o/

Lady said...

excelente texto! gostei muito!